Mostrando postagens com marcador Poemetos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Poemetos. Mostrar todas as postagens

Ouro Preto

Ouro Preto é presépio
Maquete
Onde passa um trem fantasma

Por baixo

Das casas de fina pedra

Onde um sino transparente
Badala
Movido por um certo padre morto

Ouro Preto parece que vai
Desmanchar
Sob cada pôr do sol

Enquanto as sombras gesticulam animadas
Nos vãos das escadarias

É bom ver o povo embarcar nos barcos de nuvens
Que de manhã vêm devagarinho das montanhas

Para aportar em Ouro Preto

Onde há ainda lagartos
Lambendo a água dos beirais das casas nababescas

E as mulheres lavam roupa
Rindo do rio que corre manso como o dia

E falando da beleza que deve ser o mar

É bom olhar para as vielas
E ladeiras
De Ouro Preto

Por onde você sumiu
Em sua liteira de rainha

Prometendo voltar

Em alguma noite insana

Este poema faz parte do livro Poemetos, que pode ser lido na íntegra, ao fazer o download aqui.

 

Timbuktu

A velha Timbuktu

Vai recolhendo-se

Para dormir

 

Sob a chuva 

Das incansáveis areias

Do Saara

 

A solene Timbuktu

 

A que perdeu os refrescantes oásis ao norte

As insondáveis florestas ao sul

 

E o magnífico céu sempre cheio de estrelas

 

O sal e o ouro

Os escravos

 

Viraram ossos e poeira

 

Misturaram-se à areia

Das tempestades

 

A pobre Timbuktu

Prepara-se para dormir

 

Com sua biblioteca de 700 mil livros

Que tão poucos sabem ler

 

A Timbuktu arruinada

Já está quase para dormir

 

Com seus retratos desbotados de Mansa Musa

O rei que comia ouro

E regurgitava sal

 

Sobre os pés dos escravos

 

A pobre Timbuktu

Terceira Roma na África

Glória feita de pedra e de barro

Já vai adormecer

 

Sob o olhar

Dos machados manchados de sangue

Com suas grandes portas

 

Abrindo-se para o Nada

 

Para a obstinada areia

Do Saara

A zebra na neve

 O caminhão na estrada nevada

Carrega a zebra da África


As listras brancas da neve

Ressaltam-se no asfalto preto

 

Se retiradas as listras pretas

Da zebra

 

Ela seria um cavalo branco

 

E fugiria na neve

Como uma ave no vento

Cumplicidade

Os nossos pares de chinelos

Lavados

Perfilados do lado da banheira


O shampoo que compartilhamos

Até o frasco acabar


As nossas duas toalhas velhas

Separadas


Mas que nunca sabemos

Qual é a de quem


O suave farfalhar dos seus cabelos

No meu rosto

Quando você os seca

No vento fresco da janela


Viver


É viver junto