A mulher dos cabelos de corda



De novo o pássaro da desgraça
Vem sobrevoar o nosso bairro desprezível

De novo escolherá um telhado para pousar

De modo a avisar com seus grasnados
Ásperos
E sinistros

Que algo de horrível acontecerá
Com quem quer que esteja a morar lá

De novo o pássaro da desgraça está sobrevoando
O bairro desprezível

De novo apavorando os moradores
Com os seus uivos de gralha

Os seus olhos de palha
E as asas de navalha

Com o seu bafo quente
De gralha metafísica
Envenenando o vento

Porque este pássaro não volta
Célere
Para os galhos de sua árvore morta?

Porque vem nos atormentar
Com tantos augúrios de má sorte?

- Pássaro prenhe de óleo negro nas entranhas
Porque incendiar com a sua baba as nossas tantas noites vãs?

Será um enviado da mulher dos cabelos de corda
Que um dia prometeu
Proteger-nos do nosso otimismo insano?

Será a ave de estimação
Da mulher
Que trouxe para cá a caixa de pandora?

De tão assustadora memória?

A que deixa as desesperadas formigas vermelhas
E os ratos cinzentos
Subirem por seus cabelos de corda
Como se uma Rapunzel enfeitiçada?

Quantas desgraças ela terá ainda na sua caixa
Para libertar sobre nós?

Oh, infeliz mulher dos cabelos de corda
Que nos observa
Sob o voo desta gralha

Diga por favor
O que fizemos

Ou o que deixamos de fazer

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.